quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O SEGREDO DOS SEUS OLHOS


SALA MANOEL DE OLIVEIRA
Quarta 23 Fevereiro 2011 21h30
Bilhetes à venda no local 2,50€
O Segredo dos Seus OlhosEl Secreto de Sus Ojos de Juan José Campanella
com Soledad Villamil, Ricardo Darín, Carla Quevedo, Pablo Rago, Javier Godino, Bárbara Palladino
Argumento Adaptado. Juan José Campanella Fotografia. Félix Monti Música Original. Federico Jusid e Emilio Kauderer Origem. Argentina/Espanha 2009 Formato. 2.35:1 Classificação. M/16.

2009 - 129'

Perguntando a qualquer um qual foi a grande surpresa dos Oscares na edição deste ano a resposta não fugiria muito da categoria de melhor filme em língua não-inglesa. Com o passar do tempo e o estrear do filme um pouco por todo o mundo (mérito desse troféu) as opiniões mudaram. Já não era tão grande surpresa, já não era chocante que nem "Das Weisse Band" nem "Un Prophéte" tivessem ganho porque talvez não fossem melhores. A Argentina (em co-produção com Espanha) tinha apresentado um candidato que apesar de comercialmente discreto conquistou o galardão com todo o mérito.
Benjamín Esposito está reformado e começa a escrever um livro. O que começa por parecer um romance revela-se rapidamente como um crime brutal. Esposito está a escrever inspirado num caso real. Um caso que ele próprio tentou resolver e que, vinte e cinco anos depois, ainda o atormenta. Mais do que uma etapa da sua vida, foi aquele crime que definiu toda a sua existência até aquele momento. Este livro poderá dar-lhe uma oportunidade nunca conseguida de esquecer e seguir em frente, mas para isso terá de recordar tudo o que aconteceu.
A narrativa do filme divide-se claramente em dois períodos. Um começado em 1974 quando Irene Menéndez Hastings entrou ao serviço como chefe de Esposito. Nessa época Esposito tinha de tomar conta do seu subordinado Sandoval, a braços com um problema de alcoolismo, mas faziam uma boa dupla. Este caso ajudou a criar uma forte ligação entre Irene e Esposito que devido às diferenças de classe e idade nunca admitiram amarem-se. O segundo período é o de escrita do livro em 2009. Esposito volta ao seu antigo escritório para se reencontrar com Irene e pedir a sua ajuda e apoio neste projecto. Ambos sabem que as
recordações podem ser perigosas, mas também sabem que precisam disso para esquecer.
"El Secreto de Sus Ojos" é um magnífico exercício de cinema nas suas variadas componentes. Um argumento trabalhado e com atenção aos detalhes traz-nos um dos maiores thrillers deste século. Transmite a alma e o ser argentino, com detalhes políticos, culturais e mesmo futebolísticos que farão as delícias de quem conheça o país. A realização sem a mais pequena falha e com imensas provas de mestria prova que o realizador de "El Hijo de la Novia" não teve apenas sorte, é simplesmente um dos maiores realizadores da actualidade. Mesmo áreas normalmente negligenciadas no visionamento de um filme como montagem, som e fotografia aqui dão nas vistas.
Qanto aos actores são fenomenais. Ricardo Darín lidera um elenco pequeno, mas talentoso. Carla Quevedo teve o papel mais ingrato por apenas aparecer em flashes do passado como símbolo da mulher bela e simples a quem a vida foi injustamente tirada. No entanto é ela o móbil de toda a trama. É o amor por ela e consequente ódio por quem a matou que vai mover o desgostoso marido e as forças da lei nesta longa missão. Darín e Soledad Villamil ficaram com a difícil missão de dar jus ao título e actuar com os olhos. Tudo o que não é dito é transmitido pelo olhar deles. Apenas a máquina de escrever sem uma letra consegue façanha semelhante. Um aplauso merecido para a equipa de caracterização que conseguiu, entre anos retirados e anos dados, transformar os actores em convincentes vítimas do tempo.
A vantagem de ter ganho o Oscar foi a publicidade imediata que teve por todo o mundo e consequente distribuição. Estreou cá nove meses depois, mas em países como Itália apenas chegou no mês passado e noutros como Reino Unido, Alemanha e Países Baixos ainda vão esperar mais umas semanas. É um filme que tem de ser visto - de preferência em grande ecrã - e rever também não vai saber mal. Não é perfeito, mas melhor de 2010? Sim, sem dúvida.
Nuno Reis, in antestreia.blogspot.com